Uma semana atrás eu
estava parado bem no centro da praça de alimentação de um grande shopping
carioca, a multidão de pessoas andava de um lado para o outro e pareciam nem
perceber minha presença ali entre eles, estavam tão ocupados e envolvidos com seus
divertimentos passageiros que nem sequer tiveram a mínima noção de que o ser
mais hediondo da criação estava bem ali ao lado deles. Eu não costumava sair
muito antes da transformação, eu tinha medo, medo do que as pessoas podiam
fazer a mim; nunca fui popular, nunca tive muitos amigos e fracassei em quase tudo
o que tentei fazer na vida, mas foi então que algo grandioso aconteceu e me
tornei a criatura que sou hoje; no início eu não pensei assim, relutei em
aceitar, mas com o passar do tempo percebi que minha nova condição poderia ser
muito benéfica para a minha existência.
Obviamente, se você
está lendo isso sabe muito bem que sou um vampiro, porque esta página é dedicada
a contar relatos fictícios deste personagem do folclore mundial, porém, e
embora a sociedade moderna, incluindo você, creia que não existimos e que
vampiros seriam apenas personagem de livros e filmes, o fato é que aqui estou
eu às quatro da manhã diante de meu laptop escrevendo pela primeira vez a minha
história para quem quer que deseje saber como realmente é a vida de uma
criatura da noite.
Como eu disse, estava
parado no meio de toda aquela movimentação do shopping, na verdade eu estava
procurando alguém que se parecesse comigo, se é que você me entende, mas não
percebi ninguém. As luzes artificiais ainda me fazem ligeiramente mal, mas já
consigo suportá-las muito melhor do que há um ano atrás, mesmo assim resolvi
sair daquele lugar iluminado. Quando caminhava para o estacionamento passei
pela vitrine de uma livraria e um dos livros me chamou a atenção, parei, olhei
para ele por alguns instantes e resolvi compra-lo, não me pergunte por que,
pois não saberei responder. Talvez você conheça o livro “O Vampiro Lestat” da
autora americana Anne Rice.
Comprei o livro e
enquanto a menina do caixa recebia o pagamento e colocava o volume na sacola eu
não pude deixar de sorrir levemente porque quando alguém poderia imaginar que
um vampiro real compraria um livro fictício sobre o mesmo tema. A menina do
caixa olhou pra mim porque achou que eu estava rindo dela, mas não dei a mínima
importância, peguei a sacola e sai da livraria como se fosse uma pessoa
comum.
Antes da transformação,
que aconteceu pouco menos de um ano atrás, exatamente no dia 06 de agosto de
2016, eu nunca tinha lido um único livro sequer, a não ser os de escola, nenhum
livro de romance ou mesmo ficção jamais entrou no meu quarto, sou daqueles que
sempre preferiu os filmes e os games; porém em duas noites eu li todo o romance
de Rice sobre o vampiro francês e uma ideia me ocorreu, por que não contar
sobre a minha vida para quem quiser ouvir.
Com apenas um pouco de
pesquisa na internet eu encontrei algumas páginas que falam sobre vampiros,
reduzi os resultados eliminando as que achei infantis e sem compromisso até que
finalmente depois de mais dois dias encontrei um blog chamado Noctívagos que
trata de contos vampírico, li os contos e gostei da forma como o autor aborda o
tema de forma sóbria e até meio ingênua, mas não é culpa dele porque como
alguém pode escrever sobre algo do que não conhece plenamente. Entrei em
contato com o autor do blog trocamos alguns e-mails e mensagens através do
facebook, tenho certeza de que ele não acredita que eu seja um vampiro real,
mas não importa, o que realmente importa é que ele publicará no seu blog
algumas histórias que vou contar a partir de hoje e se você deseja realmente
saber como é a vida de um vampiro em todos os seus detalhes sugiro que leia
atentamente meus próximos relatos, porque neles vou falar sobre tudo
abertamente, como eu me alimento, como vivo, como faço para andar sem ser
notado, minha história, meus dons, poderes e muito mais. Este é apenas o nosso
primeiro contato.
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