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O último dos cinco.




Havia um pequeno parque de diversões na minha cidade que foi desativado porque alguns acontecimentos estranhos ocorreram lá. Lembro-me que, naquela época comentavam sobre duas pessoas terem sido encontradas sem vida na atração conhecida como "a casa assombrada", aquela clássica casa onde são colocadas assombrações falsas que, na verdade quase não assustavam ninguém.
O fato foi que duas pessoas morreram lá, mas ninguém, nem a polícia, nem os integrantes da equipe de emergência souberam dizer o motivo das mortes, segundo disseram semanas depois, havia um detalhe bizarro nos corpos daquelas duas pessoas, na verdade faltava algo; o sangue; segundo foi dito, parece que não havia nenhuma gota de sangue nos corpos das vítimas.
Esse boato se espalhou e eu nunca soube se era apenas mais uma invenção das pessoas para encobrir o real motivo ou se realmente havia alguma verdade nisso, obviamente que na época eu não acreditava que duas pessoas adultas pudessem ter morrido aparentemente “do nada” porque de alguma maneira sinistra tiveram todo sangue do corpo drenado de um modo que não deixou qualquer vestígio.
O parque não conseguiu se recuperar desse episódio, ficou com fama de assombrado e terminou fechando as portas dois meses depois, soterrado por uma montanha de dívidas e processos judiciais. Seis meses mais tarde o próprio dono do parque foi encontrado por um grupo de adolescentes, morto lá dentro do mesmo jeito das duas mortes anteriores; os jovens tinham invadido o lugar numa manhã de domingo para explorar as supostas aparições de fantasmas porque não se falava de outra coisa na cidade. Havia vários relatos de ex-funcionários dizendo que algo muito estranho vagava dentro daquele parque, muitos deles falavam de ter visto um vulto, outros diziam ter ouvido uma voz que os chamava e teve até uma mulher que disse ter sido atacada por alguém que estava escondido em um dos lugares onde eles guardavam equipamentos de grande porte.
Depois deste último acontecimento nada mais ocorreu por dez anos e como havia de ser o parque se deteriorou rapidamente sem a devida manutenção; provavelmente os herdeiros do lugar não tinham a menor intenção de mantê-lo. Ano passado todo o parque parecia muito mais mal assombrado do que antes, sua simples visão durante a noite era suficiente para fazer as pessoas atravessarem a rua evitando passar na frente do portão principal completamente enferrujado. Meu irmão menor, do alto de seus quinze anos, juntamente com outros quatro garotos da escola onde ele estuda resolveram fazer a burrice de invadir o terreno do parque, mas ao contrário do primeiro grupo dez anos atrás, do qual eu também fazia parte, eles resolveram pular o muro à noite.
Segundo ele disse, pularam o muro com certa facilidade, pois havia pedras que pareciam ter sido colocadas, como degraus, em lugares específicos de modo a facilitar a escalada caso alguém desejasse fazê-la. Eles pensaram que essa facilidade tinha sido preparada por algum outro grupo de jovens, portanto, não era motivo de preocupação. Caminharam pelo interior do parque completamente às escuras apenas carregando suas lanternas e celulares, desejavam gravar algo sobrenatural que pudesse ser postado na internet.
Depois de passar pelo carrossel desativado, pela casa assombrada, e por um punhado de outros lugares com potencial para abrigar fantasmas, decidiram começar a procura em um dos locais onde antes eram armazenados equipamentos diversos, tinham certeza absoluta de que conseguiriam algum registro sobrenatural ali, mas não encontraram nada além de algumas máquinas empoeiradas, enferrujadas e repletas de teias de aranha; viram alguns ratos também, mas sua maior descoberta lá foi que ainda havia energia elétrica no lugar.
Passaram então para a casa dos espelhos, aquele lugar repleto de espelhos por todas as paredes onde as pessoas são refletidas das formas mais engraçadas ou bizarras possíveis, alguns nos fazem parecer mais altos, outros nos fazem parecer mais gordos e assim por diante. O lugar era muito maior do que eles imaginavam e os jovens caminharam por lá na mais completa escuridão, apenas direcionando os fachos de luz de suas lanternas e as câmeras de seus celulares para todo lugar onde achavam que poderia haver um fantasma, mas não encontraram nada a não ser seus próprios reflexos sombrios vagando nas paredes e repetindo todos os movimentos que eles faziam.
Depois de algum tempo explorando o lugar encontraram o interruptor e decidiram ligar as luzes; ficaram alguns minutos brincando com seus próprios reflexos até que de repente ouviram uma voz que disse claramente: "Sejam bem vindos".
Todos ficaram sem saber o que fazer, olharam para todos os lados, mas não havia ninguém ali além deles; porém, havia sim. O fato era que todos os jovens estavam olhando para os espelhos, mas quando passaram a olhar uns para os outros viram que, bem no meio do lugar, havia um homem parado que não estava ali um segundo atrás. Era um homem pálido ao extremo, com olheiras roxas enormes ao redor dos olhos, que por sua vez pareciam ser completamente escuros, como se não houvesse nada dentro deles; o homem usava um terno cinza que aparentava ser muito antigo, além de luvas e um chapéu tão antigo quanto o resto.
O home disse:
_ Faz muito tempo que não recebo visitas aqui.
Todos os jovens já tinham certeza de que aquela pessoa não era um ser humano normal, primeiro porque, incrivelmente, ele não possuía nenhum reflexo nos espelhos e, segundo, porque quando ele falou todos puderam ver seus dentes longos como os de um vampiro. Lembraram-se imediatamente das histórias que eram contadas a anos sobre o parque ser assombrado por fantasmas, mas ninguém jamais tinha falado nada sobre haver um vampiro no lugar.
A última vez que falei com meu irmão menor ele estava no hospital, tinha sido encontrado vagando durante a madrugada completamente atordoado e sozinho; alguns conhecidos entraram em contato conosco e o levaram para o pronto socorro de onde foi transferido para um hospital próximo no qual ficou internado por uma semana até que sua memória de todos estes fatos voltasse, mas não por inteiro, segundo o médico nos confidenciou, foi preciso fazer uma transfusão de sangue para ele, porque embora tenha sido encontrado andando, não havia muito sangue no seu corpo, algo que obviamente não tinha qualquer explicação racional, pois sempre que um pessoa perde muito sangue acaba desmaiando ou entrando em coma, e isso por algum motivo não aconteceu com meu irmão.
Os outros quatro garotos permaneciam desaparecidos e toda a cidade, desde os moradores até as autoridades estavam se empenhando em procurá-los, sem sucesso.Toda aquela história de um vampiro morando no parque, dentro da casa dos espelhos, me parecia completamente alucinada, até porque várias pessoas foram ao parque procurando os garotos desaparecidos, buscaram por toda parte no lugar, mas não encontraram nada. Todos que ouvimos o que meu irmão contou imaginávamos que se tratava de algum delírio provocado pela perda aguda de sangue que ele teve, mas ontem fomos visitá-lo no hospital, faltava apenas dois dias para ele voltar para casa. Fomos surpreendidos com a notícia de que ele simplesmente desapareceu durante a madrugada sem deixar vestígios, assim como os outros quatro, ninguém o viu deixar o lugar e nenhuma câmera de segurança registrou sua saída. Meu irmão se tornou o último dos cinco jovens desaparecidos.
Não sei mais o que pensar.

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