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A família Ankh.



_ Vá pro inferno!

Sulivan Shadow foi arremessado sobre uma mesa que se partiu; a bagunça tomou conta do lugar, todas as pessoas entraram em confronto, a música alta contribuía para a adrenalina crescente e a iluminação psicodélica completava o cenário, a maioria dos presentes brigavam. Um grande tumulto havia se formado.
A casa noturna chamava-se "Tempestade" estava com sua lotação máxima, e muitas pessoas ainda tentavam, sem sucesso, entrar na portaria, mas claramente era impossível, havia uma enorme fila do lado de fora.
Sulivan chocou-se contra o solo, balançou a cabeça para espantar a tontura e teve de pensar rápido para não ser pisoteado; aquilo já estava fora de controle, às mulheres gritavam em meio à correria desordenada e um grupo de seguranças foi acionado para tentar conter a turba, mas parecia em vão. Sulivan não conseguia mais distinguir quais pessoas ali eram vampiros e quais não eram.

_ Mas não é possível!_ exclamou Jack_ esquivando-se das pessoas que, ensandecidas, tentavam correr para toda parte e lugar nenhum.

Algumas se esmurravam mutuamente, quebravam cadeiras e mesas, arremessavam garrafas e usavam como arma pedaços de qualquer coisa que encontravam.

Uma voz familiar subiu no meio da confusão:

_ Sulivan Shadow!_ Gritou um sujeito; e repetiu em tom de deboche_ Vá para o inferno!

Com um movimento rápido e agudo o rapaz se colocou de pé, olhou em volta procurando o homem que o chamava, até que próximo da porta de saída viu seu alvo. Frey Walsh.
Aquela casa noturna era sem dúvida a mais badalada do momento em Sydney, Autrália, cidade que aliás, era uma das preferidas do jovem caçador de noctívagos, Shadow Sulivan; duas das três mulheres mais importantes de sua vida moravam nesta cidade. Sua irmã Gezebel Victorya Walsh, a segunda mulher mais importante na vida dele; que era a administradora de uma pequena fortuna da família walsh, algo em torno de oito bilhões de dólares, Gezebel era tutora legal dos demais irmãos mais novos; exceto é claro, "Sully", que passou por um árduo processo de emancipação contra vontade.
Frey Wash era o mais novo casamento de Gezebel; o terceiro, uma criatura sem nenhum escrúpulo mesmo para os padrões da família vampírica, sem honra, e que fazia tudo ao alcance para conseguir seus objetivos sombrios, passava por cima de tudo e todos sem a menor cerimônia. Até agora.
Na verdade ele era o par perfeito para Gezebel; ela era exatamente como Frey, talvez até pior, mas Sulivan Shadow Jurou para seus irmãos mais novos que não caçaria Gezebel, pelo menos até resolver uma pendência mais antiga com a Terceira mulher mais importante de sua vida.
A Condessa Alexandra d' Turon, o demônio em forma de mulher; a pior criatura que ele já conheceu na vida ou na morte. Alexandra, de ascendência franco-polonesa, era a disciplinadora de Gezebel, tinha à suas ordens um pequeno exército de assassinos das sombras, todos apaixonados por ela e que entregariam suas vidas sem pestanejar para satisfazer as vontades maléficas da Líder e condessa da “família”.
Alexandra possuía um enorme prestígio na cidade, era intocável; bilionária, sua fortuna beirava os quarenta bilhões, acumulada ao longo de quase duzentos anos, e além disso, era poderosa politicamente em várias cidades do mundo, sedutora e extremamente maligna. Desde a fusão da família wash com a família d'Turon através de um dos homens de confiança da condessa, que seria Frey; Alexandra comandava todas as ações dos irmãos de Gezebel e as duas famílias se tornaram uma só, a família Ankh, cujo brasão era a clássica cruz vampírica egípcia e cujo objetivo era tomar o controle absoluto, governar e eliminar todas as outras famílias vampíricas em toda a Oceania a partir da Austrália e em seguida começar incursões em outros continentes e países como Canadá e Brasil.  Alexandra e Gezebel não queriam apenas ser princesas destas cidades, mas sim rainhas do mundo.

Sulivan começou a correr contra o empurra-empurra, vez por outra tinha que se esquivar de um ou outro ataque das pessoas que brigavam, sem saber o porquê. Frey estava bem mais na frente e rumava de forma relativamente tranquila para a saída do lugar; certamente não seria muito fácil abordá-lo, e logo a polícia poderia chegar. Fazendo muita força para afastar a multidão que se digladiava, de perto de si, ele subiu em um balcão e correu por cima até chegar bem próximo de seu alvo que, sem ver, estava também tentando deixar o recinto.
Seria ótimo se ele estivesse com seus apetrechos de caça, mas sempre soube que a segurança dentro da Tempestade de Sydney; este era o nome da casa noturna, impedia a entrada de qualquer arma, tanto as de fogo quanto as brancas e principalmente aquelas que pudessem eliminar um vampiro. Além do mais, Frey jamais foi um adversário a altura, poderia dobrá-lo facilmente; embora fosse um homem alto e esguio, suas únicas habilidades eram a manipulação mental de pessoas comuns, tal como ele estava fazendo naquele lugar; todo aquele caos era gerado pelo dom sombrio da simples presença de Frey no local. Shadow não teria dificuldades se pudesse chegar mais próximo.

O caçador saltou do balcão e cobriu uma distância de quase cinco metros, a grande maioria dos que estavam ali não percebeu, mas algumas pessoas viram e ficaram perplexas. Sully cairia exatamente sobre a pessoa que estava querendo atacar, isso se não fosse interceptado no ar por um outro homem, corpulento e alto, de feições rígidas, provavelmente um dos guarda-costas particulares e não-vampiros de Frey. Ambos caíram e rolaram trocando murros pelo chão, mas a força de Sulivan era muito maior do que de seu oponente.
A essa altura o vandalismo tomou conta da rua em frente à tempestade, muitas pessoas saíram, mas do lado de fora os ânimos estavam menos exaltados, sentiam-se tontas e não sabiam exatamente o motivo de estarem brigando daquela forma sem sentido. Jamais saberiam que tinham sido influenciados por um vampiro, Frey.

Após deixar o guarda-costas desacordado, Sulivan Shadow se ergueu também meio tonto. Ele sabia que Frey estava usando de sua manipulação mental para manter os ânimos exaltados das pessoas, elas não sabiam mais estavam agindo como marionetes.

_ Você não me deixa em paz nunca!_ Disse Frey.

Era verdade, Sulivan o perseguia desde o dia em que se casou com Gezebel, e muito mais por saber que era um dos homens de confiança da dama da noite Alexandra. No passado, no princípio da fusão entre os walsh e os d' Turon o caçador teve uma relação de amor e ódio com a líder da família, até conhecer a primeira mulher de sua vida; a jovem Michely d' Turon, uma vampira com jeito meigo, olhos de anjo e o ar de uma flor, mas que infelizmente também fazia parte da “família”.

Quando conheceu Michely, ele resolveu deixar tudo para trás e viajou com ela para outros lugares do mundo, passou um bom tempo longe, não se importava de largar seu passado se ela o acompanhasse; queria apenas protegê-la da guerra das famílias. Principalmente porque Alexandra passou a desejar que a bela Michely fosse decapitada. Por mais esforço que Sulivan tenha feito, não foi capaz de proteger sua doce amada; a dama da noite possuía tentáculos em muitos outros lugares e conseguiu contratar assassinos que fizeram o trabalho.

_ Sou irmão da sua esposa, somos da mesma família._ Rebateu Shadow.

Agora sim, estavam cara a cara; muitas pessoas já tinham saído e o ambiente se encontrava pouco mais vazio, porém algumas pessoas ainda estavam ali agindo como animais, os seguranças da boate retiravam à força os que não haviam desmaiado.

_ Por que você não vai atrás de outros vampiros e me deixa?_ Perguntou Frey. _ Faça seu trabalho e mate nossos inimigos.

Algo passou voando e se espatifou contra a parede a poucos metros de onde eles estavam.

_ Porque não trabalho mais para a família e vou matar cada um deles até chegar em Alexandra.

Frey puxou uma pequena arma de fogo que carregava num de seus bolsos; provavelmente a segurança da casa noturna não o revistou, todos o conheciam e conheciam também a quem ele representava; gente de muito status e poder. A conversa no submundo do tráfico de influências dizia que a família Wash já possuía alianças políticas fortes o suficiente até para eleger o próximo príncipe ou, no caso, princesa das  famílias australianas; logo, entrar em uma boate com uma arma não deveria ser problema para ele.

Ao ver a arma Jack ficou em alerta, não sabia que tipo de munição seu oponente usava, mas tinha quase certeza de que se tratava de balas de prata:

_ Muito cuidado Frey, não se esqueça de com quem você está lidando; sou tão perigoso quanto minha irmã, talvez mais.

_ Você ficou muito tempo fora da cidade Sully, agora nós somos muitos mais e com muito mais força, somos intocáveis, você não vai impedir minha ascensão, a ascensão de Gezebel e da família D' Turon-Walsh. Somos os reis das noites; somos os Ankh.

Os olhos de Frey tomaram um brilho diferente, já não se pareciam mais com olhos normais, tinham a aparência de olhos de um animal, suas córneas estavam esbranquiçadas e pareciam emanar um brilho pálido.
Sulivan shadow caminhou na direção da arma, jogando o corpo da esquerda para a direita, como um pêndulo, cada vez mais rápido, seus olhos também já não eram mais olhos normais, assemelhavam-se a olhos de uma serpente; tinha herdado parte da mesma maldição de sua família.
De repente ele correu e saltou sobre o oponente, um movimento tão rápido que Frey atirou varias vezes, mas não com certeza de que tinha acertado.
As presas longas e afiadas de Sulivan se cravaram no pescoço de Frey, que tentou se libertar, mas o caçador o segurava fortemente, como uma cobra segura sua vítima. Frey sentiu parte de sua vitalidade sendo drenada pelo outro, e perdeu as forças, pensamentos e até algumas lembranças; caindo e largando ali mesmo a arma.

O caçador deixou seu inimigo quase desacordado, mas antes de matá-lo definitivamente disse:

_ Não importa quantos vocês são agora, ou quão poderosas Alexandra e Gezebel se tornaram; nossos laços de sangue não poderão protegê-las de mim, não há escuridão que seja segura para vocês. Todos pagarão pelo que fizeram a mim e a Michely.

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