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Noite vermelha



Os morcegos estavam por todo lado, um dos caçadores tombou tão rápido que os outros nem perceberam o que estava acontecendo. Um deles tentou atirar para várias direções, mas logo viu que não acertaria ninguém. Esse caçador estava perto do carro e tentou correr para buscar abrigo dentro dele, era um SUV médio que usavam para caçar as criaturas da noite, mas não teve tempo de chegar no veículo, foi abatido por um vulto escuro que o agarrou, quebrou seus braços e o atacou bem no pescoço.
Quando o corpo do segundo caçador tombou os dois que restaram finalmente compreenderam o que estava acontecendo. Eles tinha se reunido ali como faziam uma noite todos os meses para se agrupar e sair pela madrugada caçando criaturas que vivem entre os vivos sem ser vivos; ou seja, eles caçavam vampiros e perceberam que naquele momento algum vampiro os havia encontrado para se vingar.
_O que esta acontecendo aqui? Onde estão os outros? _ perguntou um dos caçadores que ainda não tinha percebido a gravidade do que estava ocorrendo.
O outro respondeu enquanto tentava criar algum plano de ação:
_Eles estão mortos. _disse o líder.
Os dois caçadores que restavam procuraram abrigo abaixados junto a alguns galões de combustível vazios, suas armas de caça estavam todas dentro do porta-malas do seu SUV, portanto, estavam praticamente indefesos e encurralados como ratos. A tempestade de morcegos continuava açoitando todo o lugar; o som era quase ensurdecedor e de repente tudo simplesmente parou. Não havia mais morcegos voando em lugar algum.
O caçador mais inexperiente disse:
_Vamos até o carro, precisamos da armas. _Ele já estava se levantando de detrás dos barris quando foi impedido pelo caçador líder que o segurou pelo ombro e o puxou para baixo.
_A criatura ainda está aqui. _disse o líder, e continuou. _ Nosso ponto de encontro foi descoberto, algum de nós foi seguido esta noite. Precisamos abater esse monstro ou ele vai nos matar a todos.
_E como vamos enfrentar ele sem nossas armas?
_Precisamos usar de alguma estratégia...
Foi interrompido pela vós do vampiro que havia invadido aquele lugar, antes, seguro.
_ Você sabe que não vai sair daqui vivo esta noite, não sabe? Se você se entregar a mim agora eu prometo que deixo o outro viver. Afinal de contas ele não tem nada a ver com o nosso passado.
Era uma voz feminina e soava calma e sedutora, o vampiro que tinha simplesmente derrubado os outros dois caçadores aparentemente sem fazer esforço era na verdade uma fêmea.
O caçador mais novo percebeu que havia algo no ar, algo nas palavras da vampira que ele não conseguiu captar, mas tinha certeza de que se tratava de algum episódio do passado daquele pequeno grupo de caça.
A vampira voltou a falar:
_Dois já morreram, vou precisar matar este outro na sua frente para que você deixe de ser covarde e venha falar comigo meu amor.
_Do que esse monstro está falando chefe?_ perguntou o segundo caçador, sussurrando.
O líder respondeu da mesma forma:
_Não é nada, ela só está tentando nos confundir.
De repente a vampira gritou de algum lugar dentro do galpão, mas não era mais apenas a voz de uma mulher sedutora, havia assumido um tom gutural e quase demoníaco; ela disse:
_ Não ouse mentir esta noite, ou juro que faço você morrer dez vezes!! _ O grito foi tão alto que quase feriu os ouvidos dos dois homens encurralados e ao mesmo tempo uma espécie de explosão surgiu liberando a tempestade de morcegos novamente, quebrando parte das lâmpadas que iluminavam o lugar. O alarme do carro disparou e aquele som de buzina inundou o ambiente.
O caos fantasmagórico produzido pela tempestade de morcegos desapareceu novamente e os homens ouviram um som violento de destruição, vidro estilhaçando e metal retorcendo, como se algo tivesse acertado o carro que simplesmente girou e capotou, parando na parede cerca de cinco metros de onde eles estavam. O líder ergueu a cabeça fazendo sinal para que o outro permanecesse abaixado, ele olhou ao redor, mas não conseguiu enxergar a vampira que tinha invadido o lugar.
_ Quem é você e o que quer conosco? Falou em voz alta ao mesmo tempo que demonstrava para o outro que tentaria ganhar tempo.
A voz da vampira reapareceu calma e sedutora mais uma vez; ela disse:
_Temos muito a conversar, e a propósito, você morre hoje.
O caçador mais novo fez sinal de que podia tentar correr até o carro destruído que jazia na parede mais próxima, ele tentaria pegar alguma arma que os permitisse contra-atacar aquela criatura, porque do contrário realmente morreriam como os outros.
_ Vou criara uma distração. _ Disse o líder.
Praticamente ao mesmo tempo ambos correram para lados opostos, o caçador mais novo não teve dificuldade de chegar ao veículo destruído, logo percebeu que parte das armas de caça estavam espalhadas pelo chão perto do carro, mas foi atingido por algo que ele não viu de onde veio, o impacto foi tão forte que seu corpo saiu do chão e girou no próprio eixo em pleno ar, os ossos do ombro se quebraram quase instantaneamente e ele gritou com a dor lancinante antes mesmo de cair no chão.
Quando caiu viu a mulher parada muito próxima dele, estava vestida toda de preto, usava uma espécie de capa escura envolta no pescoço que repousava sobre as costas dando a ilusão de que eram asas grandes e escuras, a vampira era uma jovem mulher, rosto pálido e belo como o de um anjo, exceto pelos olhos furiosos, quando ela voltou a falar o jovem caçador percebeu que realmente aquela mulher não era mais humana, pois viu seus dentes longos como o de um animal. Ela disse:
_ Seu líder abandonou você, assim como fez comigo alguns anos atrás. Ele me deixou para morrer quando encontramos um ninho de vampiros, ele planejou tudo e me deixou naquele inferno sozinha apenas com duas adagas para enfrentar uma dúzia de demônios famintos e furiosos, e ele fez isso apenas porque eu não quis me relacionar com ele, eu queria ser uma caçadora e ele só queria me usar, como não aceitei, ele, para se vingar, armou tudo isso e naquela noite eu morri; eu vi meu próprio sangue ser tirado de dentro de mim, aqueles vampiros dilaceraram meu corpo e violentaram minha mente até que eu finalmente voltei, não como uma humana, mas sim como uma deles. Hoje é a noite do acerto de contas.
_ O caçador caído segurava o ombro sem ser capaz de deter as lágrimas que caiam de seus olhos por causa da dor aguda; ele disse:
_ Se tudo isso é verdade; porque matou os outros?
A vampira respondeu:
_Porque eles sabiam e não fizeram nada para impedir, pelo contrário, tramaram juntamente para me ver morrer.
Eles ouviram um barulho; a porta do galpão se abriu, o líder estava fugindo.
A mulher sorriu deixando os dentes amostra mais uma vez. Ela disse:
_ Você foi admitido muito tempo depois que tudo isso aconteceu; sinto muito, sinto muito mesmo, mas você estava no lugar errado e na hora errada.
De repente a face angelical da mulher se desfez e se tornou cadavérica; ela avançou sobre o caçador e o grito agonizante dele ecoou pela noite.

O líder estava correndo do lado de fora do galpão, em direção a um estacionamento próximo onde todos eles deixavam seus carros particulares antes de pegar os apetrechos, o veículo e sair para caçar uma vez todos os meses. A noite parecia prenunciar a chegada de chuva em breve, havia muitas nuvens carregadas no céu e tornavam a noite vermelha, além disso, um vento gelado e sinistro soprava. De repente ele escutou o grito mais hediondo que jamais ouvira antes; o novato certamente teve uma morte extremamente dolorosa. Nunca pensou que Verônica sobreviveria e agora ela queria vingança, mas ele estava determinado a não deixar.
Finalmente chegou ao estacionamento, abriu a mala do seu carro com dois toques no comando da chave e retirou de dentro uma balestra, colocou duas setas, retirou uma arma nove milímetros e uma estaca com ponteira de prata. Tinha certeza de que podia enfrentar Verônica, afinal fazia apenas dois anos que ela tinha se tornado vampira, ainda não era tão forte. Segundo os estudos da cronologia vampírica, seria necessário algumas décadas para ela despertasse o que eles chamavam de forças das trevas, uma espécie de vitalidade sobrenatural que surge e concede habilidades sobrenaturais diferenciadas aos vampiros, entretanto, aquela tempestade de morcegos, nunca tinha visto vampiros neófitos capazes de fazer algo como aquilo. Talvez fosse melhor deixar o combate para outro dia, mas já era tarde demais.
_Já vai sair sem se despedir; outra vez.
Verônica, a vampira, estava parada exatamente atrás dele com a boca e o queixo sujos de sangue. O homem tentou atirar nela, mas a mulher se moveu tão rápido quanto uma assombração e o segurou pela mão quebrando imediatamente todos os ossos dos dedos, a arma disparou contra o chão e em seguida caiu; ele não seria capaz de segurar nada com aquela mão completamente destruída. Verônica o empurrou contra o carro com uma força tão absurda que provavelmente mais alguns ossos de suas costas se partiram com o impacto.
O caçador gritou e o som da dor dele a excitou, ela lambeu os lábios manchados com o sangue do caçador novato e em seguida disse:
_Você não sabe o quanto eu esperei por isso, minha vontade de vingança me fez suportar o inferno estes anos, meu ódio me fortaleceu além da sua imaginação mortal; você não tinha o direito de me jogar às feras só porque eu te recusei; eu perdi minha família, minha identidade, minha sanidade, minha vida; eu perdi tudo e agora sou uma criatura abominável, mas tenho a força e as habilidades de um semi-deus.
O caçador tentou erguer a outra mão e atirar com a balestra, mas Verônica se aproximou como um fantasma e apertou o ombro dele com tanta força que estourou os ossos do local.
_Verônica, eu sinto muito, sou outra pessoa agora, não há uma só noite que eu não me arrependa do que fiz.
Ela disse:
_Você é o mesmo mentiroso de sempre e está apenas querendo salvar sua pele, mas não vai acontecer.
O pálido e belo rosto se tornou monstruoso novamente e ela mordeu o pescoço dele, mas não bebeu o sangue da vítima, queria apenas vê-lo sangra e sofrer antes de morrer, e, faria isso com o máximo de crueldade que conseguisse durante toda aquela noite com apenas as nuvens vermelhas como testemunha. 

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